quarta-feira, 20 de junho de 2012

BURACOS OU ... CRATERAS

BURACOS OU ... CRATERAS


As estradas que nos levam até ao Stº António da Neve, na Freguesia do Coentral, Concelho de Castanheira de Pera, estão em tão mau estado que desanimam qualquer um que tencione visitar aquele lindíssimo local.
Lá em cima, os Poços, onde ainda no início do século vinte se guardava a neve que seria levada para Lisboa através de tortuosos e perigosos caminhos; e a Capela mandada erguer por Julião Pereira de Castro, Neveiro – Mor de Sua Majestade, em honra de Stº António, são o culminar de uma viagem para quem ousa percorrer os quilômetros passando pelo Coentral Grande.
Numa viagem sempre a subir, o visitante poderia (dizemos ‘poderia’) deliciar-se com a maravilhosa vista que o vale á sua esquerda deixa vislumbrar, com frondosas sombras, que entre o verde das árvores convidam a um saboroso descanso, assim como a visão das colmeias semeadas pela vertente da serra demonstrando a tenacidade do Homem em continuar a habitar o que parece ser impossível. Já para não falar do que até há pouco tempo seria o maior espaço de cabos elétricos entre postes de alta tensão, bem como, práticamente a meio desta viagem; serem ainda bem visíveis os sulcos gravados na rocha dos rodados dos carros de bois, ou outras ‘bestas’; que transportavam a neve até á residência palacial de Sua Majestade, o Rei de Portugal.
Mas o visitante não o vai fazer.
Simplesmente porque são muitos os conselhos que vai recebendo quando pergunta qual o melhor caminho pra chegar até ao Stº António da Neve.
A resposta é invariavelmente a mesma:
-“O mais perto seria pelo Coentral … Mas a estrada está tão má… são só buracos. Olhe que nem de jeep eu me atrevia. Acredite. Vá antes pela estrada que vai para a Lousã. Há-de apanhar uma placa com as indicações para o Stº António. É mais longe. É, é… mas olhe que vale a pena”.
E lá seguem ele, eles, o grupo, a família … … …
Seguem pela estrada nacional ‘em direcção’ á Lousã.
Alguns iniciam a viagem subindo ao Ameal e, lá no cimo, voltam á esquerda percorrendo ainda alguns quilômetros… outros sobem pelas aldeias, passando pelo Poço Corga até encontrarem a tal placa e lá se dirigem mais confiantes até ao Stº António da Neve… mais confiantes até encontrarem também por ali o que até ao momento evitaram:


- Buracos!
Buracos, não! Verdadeiras crateras é o que se encontra por ambos os locais. Buracos com alguns metros de comprimento… alguns com quase meio metro de profundidade… … pedra solta … e para piorar a situação há ainda os arbustos que obrigam os veículos a circular pelo meio da estrada.
Com tudo isto, os visitantes até se esquecem da beleza do Stº António da Neve e do percurso que fazem pela serra que ali é partilhada pelos concelhos de Castanheira de Pera, Lousã e Góis.
Com tudo isto, já algumas vezes os escutámos a dizer que “assim não voltamos” …
Afinal em que ficamos? Quem é que arranja aqueles buracos? Aquelas crateras?
É que um dia destes ninguém mais irá visitar o Stº António da Neve…
Um dia destes aqueles três Poços ainda existentes, deixarão de existir… tal como aconteceu com os que ali mesmo ao lado, no concelho vizinho, infelizmente, ruíram.
E como ficará a capela do Stº António da Neve?
Aquela capela que se encontra classificada imóvel de interesse público desde 1986? …
Antes que seja tarde, é tempo de se fazer alguma coisa para que aquele património não passe a ser uma miragem para os nossos filhos e netos.
Filipe Lopo

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